Internet, Youtube, Vírus do Humor e Cultura Participativa; uma análise introdutória

                                     


O humor, naturalmente expressado pelo riso, acompanha os seres humanos desde os seus primeiros momentos de vida, parece atingir um ápice descontrolado na infância, característica das travessuras de criança, e estabiliza – se como traço mais ou menos presente em todos as pessoas . Em algum momento toda pessoa ri, pelo menos as que dispõem de condições físicas pra isso. Esse comportamento natural do ser humano, que em geral manifesta – se de maneira espontânea, e em momentos de lazer associados aos interesses culturais artísticos – criativos (CAMARGO; 1988), tem como inspiração, em muitas das vezes, situações cotidianas para criar o riso. Ora! Como o cotidiano afeta a todos nós, somos todos cômicos potenciais! 
E o surgimento do YouTube, maior rede social digital (mídiasocial), site de compartilhamento de vídeos on – line, que funciona desde junho de 2005, dentro do incomensurável organismo da Internet, cuja explosão revolucionou a comunicação e o trabalho humano, e por conseguinte toda a sociedade contemporânea, aponta estatísticas para a predominância de vídeos relacionados à humor armazenados em seus servidores, postados por pessoas comuns e também criados pelo marketing empresarial, que sem dúvidas conhece o poder de fixação de uma experiência de marketing cultural com características de entretenimento.
Com o slogan “Brodcast yourself” , que incentiva a postagem de vídeos de conteúdo pessoal, o YouTube conseguiu angariar milhões de usuários, com múltiplos temas em seus vídeos, e pela acessibilidade e facilidade de uso, contando com poucas restrições ao conteúdo dos vídeos , o site rapidamente se tornou uma plataforma com característica de rede social , com comunidades para temas como humor e política, e uma ferramenta para distribuição de material relacionado ao entretenimento, em especial vídeos de humor e paródias em geral, que utilizando um dialeto da rede, se espalham de forma “viral” .

O gigante do entretenimento, que em apenas uma ano de funcionamento era o site mais popular entre os britânicos, à frente da tradicional BBC, teve como seu primeiro hit, um vídeo de humor intitulado “Lazy Sunday“ , reiterando a atração humana por situações consideradas engraçadas . Quem com certeza riu bastante foram os fundadores do site, que em menos de 2 anos de funcionamento tiveram seu empreendimento comprado por 1,65 bilhões de dólares pelo incomensurável ser da rede mundial de computadores GOOGLE. A transação vultosa gerou ainda mais visibilidade ao site, e os vídeos de pessoas ao redor do mundo se tornam hit´s e podem fazer rir diferentes culturas, ou criar tensão quando interpretados como ofensivos, considerados como humor “sem – noção “ .
                                 
A nova geração, considerada nativa digital por pessoas que nasceram e foram alfabetizadas antes da era da internet, usa a internet em geral como forma predominante para adquirir cultura, e também para momentos de lazer em redes sociais. No YouTube, a presença de vídeos com características inovadoras e de humor, traços comuns das mentes jovens, são maioria (Burgess; Green 2009), evidenciando que há um sistema com possibilidades de análise através do critério das ciências sociais. O que leva as pessoas a compartilhar vídeos com desconhecidos, de forma espontânea, em muitos momentos em situações cômicas e embaraçosas, com objetivo de obter múltiplas visualizações? Ou “ trabalhar “ em seu tempo de lazer para criar material de mídia – digital em processos minuciosos de edição para com objetivo de fazer rir? Muitos desejam publicidade para marcas e indivíduos, usualmente remuneradas, mas outros tantos milhões simplesmente desejam ser vistos, e ver outros em situações engraçadas. Será que a ferramenta digital veio para suprir a necessidade do self sintetizada em “ ser é ser percebido “ pensamento do filósofo George Berkeley?
A nova ferramenta trouxe a questão da interação entre as novas e tradicionais formas de entretenimento, sobretudo a questão do humor, anteriormente plenamente explorado como mídia pelos canais de comunicação, sobretudo através da televisão, com a proliferação de esquetes de comédia em programas que vem desde a época da "TV PIRATA" , "OS TRAPALHÕES"
do "Casseta & Planeta", da "A PRAÇA É NOSSA" e programas com as controversas “ video cassetadas “ e pegadinhas malandras. A irreversível penetração da internet no cotidiano da sociedade de forma geral tornou o ambiente virtual e suas manifestações parte relevante da cultura moderna, e os vídeos postados no YouTube, que alcançam milhões de pessoas, têm influenciado de maneira significante o humor veiculado pela televisão. Criaram – se programas que exibem somente vídeos amadores do YouTube, com tema diversos, tendo o humor como característica dominante. Interessante notar, que em geral rimos quando algo deveria acontecer de uma forma, e  então ocorrem acidentes que mudam o resultado esperado, ou por escrachos da realidade considerada normal, ou habitual pela sociedade.
Por exemplo: a vovó que não consegue se equilibrar e cai de forma desengonçada. A situação costuma provocar riso, não pela escoriações que o tombo pode provocar , mas o riso vem pelo inesperado da situação, representada não como algo sério, e sim pelo viés cômico, quase sempre contando com risadinhas programadas de fundo, e onomatopeias reproduzindo os sons dos imbróglios dos desafortunados filmados nas ações.
O mercado do entretenimento mostra – se ressabiado com a questão de direitos autorais que norteiam o conteúdo do YouTube, no qual usuários criam vídeos de humor utilizando filmes e séries de grandes produtoras, reeditando e parodiando de todas as formas imagináveis. Contudo, o mercado da mídia de massa cada vez mais se apropria dos vídeos do YouTube para compor suas programações, sem pagar direitos autorais aos amadores produtores de comédias voluntárias ou acidentais. O conceito de
cultura participativa, que de forma geral rege as redes sociais e o YouTube, baseia – se na livre circulação de ideias e vídeos, com respeito a propriedade intelectual, e possibilidades de intervenções que justamente caracterizam a cultura participativa. O lazer, através do humor, assume nesse contexto um caráter revolucionário, estimulando debates na sociedade acerca das tradicionais estruturas de produção e consumo de entretenimento, e perpassando questões ligadas a cidadania e expressão do indivíduo.


Nesse caso, permitindo – se trocadilhos infames, quem ri por último, ri melhor, ou pelo menos, com mais chances de ter o riso, e os devidos compartilhamentos, alcançando cada vez mais mídias criadas à partir do hospedeiro, que também é o rotavírus, o canal de vídeos Youtube com seus milhões de agentes infectocontagiosos, que somos nós, seus usuários.

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