O Álcool e às práticas de Lazer; Cultura milenar e entretenimento, ou manipulação das grandes empresas e do capital político e social?

 
  Brasil, calor, muita gente bonita e descontraída, forte cultura popular voltada para as manifestações coletivas, carnaval, futebol, festivais de música. Aparente condições que naturalmente evocam o espírito festivo, de comemoração e liberdade, relação oposta às formalidades que dominam os ambientes corporativos, e também sociais, no cotidiano das pessoas nesta era dominada pelas práticas direcionadas para o acúmulo de capitais, ou se preferir, o mundo do “trabalho” atual. Talvez, por isso mesmo, todos estamos sempre esperando a próxima oportunidade. para nos libertarmos da opressão do sistema, e sermos, cada um à sua maneira, alegres, espontâneos e felizes.
 
Mas por que não brindamos com pequenos goles de vinho, suco, ou até mesmo água? E porque queremos tanto loiras geladas em baldes prateados, ou whisky´s envelhecidos 12 anos em tonéis de carvalho, com pedras de gelo de coco? Ou pra quem não pode tanto, pinguinhas de alambique, caipirinhas, marias – moles, rabos de galo, bombeirinhos, fogos paulistas, e toda gama de venenos que se vende nas biroscas e botecos das favelas e periferias das quebradas por aí.
  O que nos impulsiona a “voluntariamente”, nos envenenarmos com litros de álcool, pra ratificar nosso espírito de confraternização? Se já estamos felizes, com espírito festivo, água, ou uma única taça de vinho bastariam para obtermos o relaxamento e “brisa” desejada. 
O Dr. Ronaldo Laranjeira, PhD em dependência química,e coordenador do centro de pesquisa em álcool e drogas da UNIFESP menciona: “Hoje está mais ou menos estabelecido que a pessoa sem problemas, se for um homem saudável, pode beber o equivalente a dois ou três copos de vinho, ou dois copos de chope, ou uma dose pequena de destilado.” Fonte: Site Dr. Drauzio Varella. Com menor atenção destinada aos destilados e fermentados, poderíamos investir mais em gastronomias inovadoras, criativas e de alto valor cultural, também sobraria mais espaço para difusão e promoção de cultura, música, hospitalidade, inovação, e outros fatores de entretenimento e diversão, para garantir o apelo de empreendimentos e ações culturais, junto ao público almejado. Mas a cultura de massa vigente, é a de focar quase que exclusivamente, como fator decisivo de sucesso pra um evento ou comemoração, a quantidade de bebidas disponíveis, e consumidas na realização do evento. Mas, será que conscientemente, gostamos mesmo tanto assim disso? Ou somos manipulados e direcionados para essas práticas milenares de orgias alcoólicas, pela mídia e pela cultura, como ideal de diversão e liberdade?

  Em face a tantos casos de alcoolismo, doenças graves, físicas e psíquicas relacionadas ao consumo de álcool, acidentes automotivos, com condutores, passageiros e pedestres sendo vitimados por agentes catalisadores alcoolizados, desagregação social, tretas, mortes, custos bilionários para o sistema de saúde, custeado por todos os cidadãos (gostem de um birinight´s ou não), vidas e energia derramadas na sarjeta como uma intragável cerveja quente, é notória a influência de fatores externos e forças alheias ao bem – estar social, e a saúde da população de forma geral. Não sejamos hipócritas nem idiotas! Uma cerveja gelada é uma delícia! Uma caipirinha, bem feita, além de ser patrimônio nacional, é um refresco excelente pra dias quentes de verão. Um 12 anos de milho, ou um Black, ou uma amarulinha antes, e/ou depois da refeição, estimulam apetite e favorecem a digestão. Mas será que são imprescindíveis? E na escala em que atualmente se consomem, nas comemorações e festas pelo MUNDOCRUEL?
  
  Muitos de nossos comportamentos são influenciados pelo nosso inconsciente. Se conscientemente, sabemos que o álcool é um perigoso estimulante, nos tira o controle sobre às emoções e sobre s atos que perpetramos quando influenciados pelos “aperitivos”, afeta coordenação motora e julgamentos, e, a princípio, não traz benefícios proporcionais aos custos e riscos envolvidos, a não ser pra quem lucra com sua venda e distribuição claro! Então por que agimos assim? Muito provavelmente, um inconsciente bombardeado por propagandas e carregado de mensagem subliminares, possa ser a resposta para certas escolhas e hábitos de indivíduos e sociedades.

 
O consumo de álcool, é uma cultura milenar e fenômeno antropológico de várias sociedades ao redor do MUNDOCRUEL, inclusive abençoado com um célebre milagre do maior “psicólogo” de todos os tempos, que com certeza sabia que ao transformar água em vinho, seria considerado sumidade como Filho de Deus por todos, caretas e bêbados, céticos e crédulos. Associado com prazer e poder, tendo seus Deuses nas mitologias gregas e romanas, às mais difundidas lendas e mitos do mundo contemporâneo, o álcool, assim como a história, vem se destilando ao longo do tempo entre a humanidade. Alçado a símbolo de status e consumo, com caríssimas garrafas de vinho, champagne, whisky, vodkas, drik´s, etc.., teve sua alma e glamour sempre associados a ideários de liberdade, sedução e poder. E como já foi dito pelo filósofo, “ O poder corrompe”.
 
Pois bem, milhares de anos depois, continuamos a nos embebedar, bater carros, brigar sem motivo razoável, tendo ações inconvenientes, nos viciando (comigo nunca! Todos dizem isso), ficando doentes, de ressaca, de bode, na deprê, e nos envenenando voluntariamente, em nome de uma etílica e volátil liberdade de comportamento e escolha. Contudo, estamos novamente nesse longo curso da humanidade, no limiar de uma nova era, não somente para alguns privilegiados, mas para todos os cidadãos, agora globalizados e conectados em redes. Poderemos revolucionar nossos comportamentos, em todos os âmbitos, em função da informação e do poder advindo do conhecimento. E essa revolução comportamental passa também pelas práticas de lazer, com a criteriosa escolha daspolíticas públicas que serão estimuladas e consideradas saudáveis para o bem – estar social. Poderemos ser mais produtivos, conscientes e responsáveis, superando antigos hábitos enraizados em nossos subconscientes. A grande questão, é também a fundamental opção; queremos essa mudança de paradigmas como um todo, como sociedade?
  Pesquisa, feita no Hospital Universitário da USP, indica que, de 2002 a 2012, adolescentes e jovens de 13 a 22 anos compuseram a faixa etária que mais procurou socorro médico com intoxicação aguda por ingestão de álcool – foram 35% dos 1.370 atendimentos. “O contato com bebidas alcoólicas tem sido cada vez mais precoce: aumenta a dosagem ingerida e diminui a idade do uso. Assim como nem todos os que consomem açúcar adquirem diabetes, nem todos os que ingerem álcool se tornam dependentes, mas, quanto maior a oportunidade de beber, maiores, obviamente, são as chances de a doença se manifestar.” Regina Abreu.

  Outra pesquisa, do Ministério da Saúde aponta; “Existe uma tendência mundial que aponta para o uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas, incluindo o álcool, sendo que tal uso também ocorre de forma cada vez mais pesada. No Brasil, estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicoativas – CEBRID sobre o uso indevido de drogas por estudantes (n = 2.730) dos antigos 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras (Galduróz et. al., 1997) revelou percentual altíssimo de adolescentes que já haviam feito uso de álcool na vida: 74,1%. Quanto a uso freqüente, e para a mesma amostra, chegamos a 14,7%. Ficou constatado que 19,5% dos estudantes faltaram à escola, após beber, e que 11,5% brigaram, sob o efeito do álcool.”
Você pai de família, você jovem, você mulher – bem – resolvida – dona – do – próprio – nariz, você malandro – nato – mili – dias – de – pistas, você cidadão de bem, você cidadão de “bens”, você revolucionário, todos estamos prontos pra essa nova era? Não trata – se apenas de agradar a geração saúde, ou solidarizar com os milhões de alcoólatras em tormento no Brasil. É uma questão gravíssima de saúde pública, do uso de substância que causa dependência química, e é estimulada pelo estado e pela sociedade, com altos lucros pra alguns, e prejuízos irreversíveis para outros. Desnecessário lembrar sobre o alto número de motoristas embriagados que causam acidentes, mesmo com a lei seca em vigor há certo tempo. 








  A Organização Mundial de Saúde (OMS), em recente pesquisa trouxe luz para esse, aparentemente, insolúvel problema, que mata anualmente 320 mil jovens entre 15 e 29 anos de causas relacionadas ao consumo de álcool, e 2 milhões e 500 mil pessoas entre todas às idades. Foi estabelecido um programa de metas, de áreas que precisam ser monitoradas pela sociedade e pelo poder público, para garantir que nosso jovens e adultos não sejam cooptados pela malévola indústria do alcoolismo;
  • liderança, consciência e comprometimento;
  • resposta eficaz do serviço de saúde pública;
  • ação comunitária
  • políticas de controle contra motoristas embriagados;
  • disponibilização de álcool;
  • Controle do marketing de bebidas;
  • políticas de preços;
  • redução dos impactos negativos do consumo de álcool;
  • redução do impacto na saúde pública de álcool ilegal, impróprio pro consumo humano (batizado, etanol, metanol, etc..)
  • monitoramento e vigilância.
  O Brasil têm avançado, lentamente, na abordagem da questão, em busca de políticas púbicas efetivas e eficazes no combate ao problema generalizado. “Uma ação política eficaz pode reduzir o nível de problemas relacionados ao consumo de álcool e outras drogas que são vivenciados por uma sociedade, evitando que se assista de forma passiva ao fluxo e refluxo de tal problemática. Consideramos que nada assume um caráter inevitável, e que, ao contrário, quando se constroem políticas públicas comprometidas com a promoção, prevenção e tratamento, na perspectiva da integração social e produção da autonomia das pessoas, o sofrimento decorrente deste consumo tende a diminuir em escala expressiva. Se em alguns países impera a ausência de qualquer iniciativa de saúde pública neste campo, vemos que em outros tal resposta assume um caráter meramente retórico e, por vezes, confuso.” Relatório; A POLÍTICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA A ATENÇÃO INTEGRAL A USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – 2004


  Para se ter uma vaga ideia do custo da diversão; “Considerando dados referentes ao ano de 2001 (DATASUS, 2001), tivemos no Brasil 84.467 internações para o tratamento de problemas relacionados ao uso do álcool, mais de quatro vezes o número de internações ocorridas por uso de outras drogas. No mesmo período, foram emitidas 121.901 AIHs para as internações relacionadas ao alcoolismo. Como a média de permanência em internação foi de 27,3 dias para o período selecionado, estas internações tiveram em 2001 um custo anual para o SUS de mais de 60 milhões de reais. Estes números não incluem os gastos com os tratamentos ambulatoriais, nem com as internações e outras formas de tratamento de doenças indiretamente provocadas pelo consumo do álcool, como aquelas que atingem os aparelhos digestivo e cardiovascular, câncer (principalmente hepático, de estômago e de mama), deficiências nutricionais, doenças do feto e recém-nato da mãe alcoolista, as doenças neurológicas e o agravamento de outras doenças psiquiátricas provocado pelo álcool, assim como os agravos decorrentes de acidentes ou violência, o que se aplica a todos os povos. Pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Drogas dos EUA (1997) revelou que o uso excessivo de bebida estava presente em 68% dos homicídios culposos, 62% dos assaltos, 54% dos assassinato e 44% dos roubos ocorridos. De forma relativa à violência doméstica, a mesma pesquisa evidenciou que 2/3 dos casos de espancamento de crianças ocorrem quando os pais agressores estão embriagados, o mesmo ocorrendo nas agressões entre marido e mulher. No Brasil, pesquisa realizada pelo CEBRID (1996) informou que na análise de mais de 19.000 laudos cadavéricos feitos entre 1986 e 1993 no IML de cada 100 corpos que deram entrada vítimas de morte não natural, 95 tinham álcool no sangue.” Fonte; SUS
 
Mas como poderia ser essa nova era de lazer e entretenimento, não encharcada e sem bafo de cachaça? Ambientes de lazer, cultura e entretenimento, que não colocarem o álcool como principal produto, terão que investir em novas formas de diversão e atrativos culturais, para garantir à experiência de satisfação dos clientes. Música, cultura, intervenções artísticas, gastronomia original e limitação no nº de bebidas, no consumo direto por pessoa. Poderíamos abrir mão dessa “liberdade” no consumo do veneno, com menos ostentação de alcoolizados bebendo e mijando dinheiro, causando danos a economia de forma geral, com os já mencionados custos do sistema de saúde, e da (im)produtividade direcionada pelo mercado do álcool, em prol de um coletivo culturalmente sustentável, harmonioso, consciente de seus problemas, e cioso em resolvê – los?
  Acreditamos que sim! 3 latinhas por churrasco, 2 garrafas de breja por cabeça na mesa de bar, 2 doses de destilados por festa, 1 indivíduo e 1 sociedade com menos sequelas. A caminhada é evolutiva, essa é a sina da humanidade. Saúde, inteligência, paz e Glórias devem fazer parte dessa evolução humana. Seja consciente, diga não à manipulação das grandes empresas e do estado genocida! 
BEBA MUITA ÁGUA EM ESTADO PURO!



Fontes;

Comentários

  1. Com certeza, para quem bebeu muito e parou, o pior da bebida é o distúrbio neurológico que advém provocando um estado psicológico devastador que os espiritualistas insistem em dizer que são espíritos opressores e na realidade nada tem a ver pois os estudos psiquiátricos podem muito bem esclarecer, sem necessidade de procurar justificar desta maneira como se não houvesse explicação científica.

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